Você já viu este símbolo em grades e portões? Descubra sua origem e o seu significado

Studio Duas


Em 20.11.25

Você já reparou em portões ou grades com desenhos que lembram corações? Esses traços, presentes em tantas fachadas brasileiras, carregam uma história ancestral. Eles vêm dos símbolos Adinkra, criados por povos africanos há séculos para expressar sabedoria, força e valores de vida. Cada forma é um elo entre passado e presente, um registro da influência africana que segue viva na arquitetura e na decoração brasileira, revelando histórias de identidade, beleza e pertencimento. Descubra o que esses símbolos representam, e como atravessaram o oceano para fazer parte de casa e cidades do Brasil.

Conheça a especialista

Andressa Oliveira é arquiteta e urbanista especialista no cultivo de plantas em casa e com experiência em projetos arquitetônicos e de interiores.

O que são os símbolos Adinkra

Os Adinkra são símbolos criados pelos povos Ashanti, da África Ocidental. Cada desenho representa uma ideia ou um ensinamento sobre a vida, como coragem, sabedoria, união e respeito pela natureza. São uma espécie de escrita visual, usada para comunicar conceitos filosóficos e espirituais por meio da arte

Originalmente estampados em tecidos, joias e objetos cerimoniais, os Adinkra ultrapassaram o campo religioso e passaram a aparecer também em elementos decorativos, na arquitetura e no design, sempre preservando seu significado simbólico.

A travessia dos símbolos da África para o Brasil

Durante os séculos de diáspora africana, milhões de pessoas foram trazidas à força para o Brasil, como escravizados, trazendo consigo saberes, crenças e linguagens que ajudaram a moldar a cultura do país. Entre elas, estavam os povos Akan, grupo étnico e linguístico que inclui os Ashanti, criadores dos Adinkra.

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A tradição ferreira africana foi uma das grandes responsáveis por introduzir a metalurgia no território brasileiro, com técnicas e expressões artísticas sofisticadas. Do século XV ao XIX, os povos Akan dominaram a mineração e o comércio de metais na região que hoje corresponde a Gana e Costa do Marfim.

No Brasil, os africanos escravizados atuaram em diversas frentes, na construção das cidades, nas fundições, nas artes e na arquitetura. Mesmo em condições de opressão, deixaram marcas profundas: traços de sua cultura, de sua espiritualidade e de sua visão de mundo.

Adinkra na arquitetura brasileira

Símbolo africano Sankofa, representado por um pássaro que olha para trás e por arabescos em formato de coração, inspiração presente em grades e fachadas brasileiras.

Adobe Stock

Em muitas cidades brasileiras, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, portões, grades e fachadas ornamentadas exibem padrões que lembram corações, espirais e figuras geométricas. Muitos desses elementos foram moldados por artesãos africanos e seus descendentes, que integraram o conhecimento técnico à simbologia espiritual. À primeira vista, parecem apenas arabescos decorativos, mas por trás dessas formas há um elo direto com a herança africana deixada pelos ferreiros e construtores do período colonial.

O símbolo Sankofa, um dos mais conhecidos, tornou-se parte dessa linguagem visual. Representado por um pássaro mítico que voa para frente com a cabeça voltada para trás, com um desenho semelhante a um coração, ele ensina que é preciso reconhecer o passado para seguir adiante. Tudo indica que, além do valor estético e arquitetônico, muitos desses símbolos foram deixados de forma intencional e simbólica pelos artesãos africanos como uma mensagem aos seus descendentes: a de nunca esquecer de onde vieram.

Hoje, os Adinkra inspiram arquitetos, artistas e designers contemporâneos que buscam reconectar suas criações à ancestralidade africana. Linhas curvas, tramas metálicas e grafismos geométricos voltam a aparecer em painéis, revestimentos e fachadas, reinterpretando essa herança com novos materiais e olhares.

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Mais do que grafismos, os Adinkra são histórias forjadas em ferro e memória. Olhar para eles é reconhecer a força dos povos africanos que ajudaram a erguer o Brasil, e entender que cidades e casas brasileiras também carregam traços da história africana, muita vezes apagada e não reconhecida. Veja também móveis de ferro cheios de beleza na decoração.

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